Mediocridade

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Vanessa pintava os lábios lentamente, como uma pintura. Tinha o olhar fixo no trabalho meticuloso que realizava com ar distraído, daqueles que não se esforçam para serem abençoados pela graça de braços estranhos.
Era batom caro, de cor forte. Pagava todo mês na fatura do cartão a vaidade, desperdiçada em suaves prestações, sem entrada e sem juros. Vanessa era linda. E oca. E Complexa.
Vestiu o longo, sentou no sofá e esperou o noivo. Olhou para os pés. Seus dedos eram proporcionais. Tentou imaginar, de olhos fechados, seus rosto. Se viu como eram aos seis anos: banguela, toda suja de terra, pés descalços.
"Certa vez, um professor me disse que sempre lembramos da infância como algo feliz. Mas é porque achamos que não tínhamos preocupações naquele tempo. Como não? Será que aquela trela ou aquele tapa não eram para nós algo tão importante como as contas e relacionamentos mal resolvidos?" Ela se questionava.
Unhas roídas, esmalte descascado. "Logo mais ele chega e não dá tempo de ajeitar o estrago". O curioso é que agora não fazia mais diferença. Na verdade, nunca fez. Isso é sempre um truque pra enganar o tédio de estar vivo.

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