Para Teresa. (sobre dias melhores)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010


Então nós já esperávamos por isso. Porque o mundo não consegue ver alguns sorrisos e palavras sinceras que já providencia alguma pedra onde, se não tivermos cuidado irremediavelmente vamos tropeçar. E eu que via a tempestade chegando cada vez mais pesada, cada vez mais impiedosa, me descuidei desviando o olhar para você por um segundo. Os primeiros estragos da chuva não se mostram se você não tiver a alma atenta a do outro. Mas eu consigo enxergar a sua.
Eu sei que agora parece difícil seguir em frente, serão dias escuros. Mas mesmo cega, pisada e molhada, bem de perto vejo o brilho que eu sempre vi, e é ele que me dá forças pra continuar. Depois que esse tempo passar, porque mesmo a pior tempestade um dia passa, ainda vamos estar aqui. Ainda estaremos de pé. E aquele sorriso que um dia me fez mudar, vai ser o sorriso que vai nos trazer de volta. E no fim de tudo terá o arco-íris. E o pra sempre.
                                                                                                                                                Eu te amo.

Nem por isso especial

domingo, 11 de julho de 2010

Paulo atravessava a rua num sábado de manhã para ir à padaria. Pediu dez pães, um litro de leite, um quilo de açúcar e um pedaço de bolo. Voltou observando as pessoas sem realmente se concentrar em seus rostos. Encarar alguém era algo que causava certo desconforto, como se tivessem sugando suas almas. "Não quero ter pedaços de estranho em mim", pensou. Seu apartamento era assim: tinha pouco espaço e muito carinho, e é isso que você precisa saber por hora. Trancou a porta e foi preparar seu café da manhã. Ele vestia uma camisa vermelha e estava com a barba por fazer. Depois do café, foi ler o jornal. Tomou banho. Pensou nela. Vestiu seu terno e saiu para trabalhar. Era vendedor de imóveis, nada muito interessante mas com certeza havia certa graça. Uma vez vendeu a um casal recém casado uma casa que tinha o muro rosa. Era a casa dos seus sonhos. Talvez um dia, quando encontrar seu par, um monte de filhos, cachorro, contas a pagar... E tudo isso passava como num flash. Parecia outra vida.
 Já era noite agora e ele voltava para casa. Não precisava se preocupar em ficar espremido no metrô ou ônibus pois tinha seu carro, que a custo pagou todas as 24 prestações. Fechou mais uma vez a porta, se livrou da gravata, sentou em frente da janela que mostrava o céu.
Pequenos milagres anônimos.


Alice, Sofia ou Teresa

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Tudo que sabia é que ela tinha o sorriso mais bonito que eu já tinha visto e um par de all star vermelhos. Mas era como se eu já conhecesse todos os vícios e alegrias daquele rosto estranho a mim. Não foi difícil encontrar ternura em seus olhos quase inexistentes, mesmo com todo o esforço que ela faz pra não demonstrar a parte boa da sua alma. Que tem uma cor azul. Tem também cheiro de lar.
E o que eu posso dizer é que não precisa de muitas palavras pra sentir que ela vai ser grande um dia. Vai mudar o mundo, do seu jeito. É cordeiro em pele de lobo e é  isso que impressiona. E eu espero o dia, espero o dia, espero o dia...

Vida

terça-feira, 9 de março de 2010

Essa não é uma história diferente. Não é original, como se pretende alguns escritores. Não tem uma boa trama nem personagens que vão da dor à profunda alegria em segundos. Não tem paisagens que fazem suspirar. Não tem rostos belos e olhares de ressaca. Não tem reflexões muito profundas e desejo de mudar. Não tem pôr-do-sol laranja com duas sombras se beijando. Sequer tem alguém escrevendo essas palavras, que são duras porque saem de dedos enferrujados e descuidados no que vão deixar escrito. Escrever essa história é cansativo mas eu já me entrenguei ao trabalho sujo. Quem escreve deve estar disposto a lidar com o sujo, com o não-acabado, com o deficiente. E eu já estou morta e não consigo parir esses frases. Cada tecla da máquina sussura ao meu ouvido "dói, dói, dói".Mas se morre no prazer. A história ali de cima já foi deixada de lado a certo tempo. Agora é nascer mais uma vez quando as letras me chamarem.

Sapatos vazios

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Poderia se chamar Tereza e ser médica. Teria dois filhos e viveria numa casinha verde-mar, sem jardim mas muito bonita. Poderia se casar com o júnior, um homem com o sorriso simpático. Poderia gostar de passear aos domingos e ver seu marido marcar gol. Poderia gostar de picolé de limão e filme de terror. Poderia ver sua filha dançar ballet e o menino lutar judô. Poderia ter as roupas brancas. Poderia ter uma casa de praia e uma de campo. Poderia saber sorrir nas horas certas. Só que quem poderia ser Tereza, médica, mãe de dois filhos, casada com o júnior, teve hoje uma briga com sua mãe que, mesmo sem conhecer Tereza, mandou a menina conversar com Deus.

sobre íris

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

As pessoas me falam que o olhar é muito importante. Mas sempre que elas podem, desviam.

Vontade ou como deve se portar uma dama.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ana estava sentada. Olhava os carros passando apressados pela rua estreita. Já era quase noite e uma brisa fria tocava-lhe, acariciando o rosto. Era mais que isso, refrescava seus pensamentos e abrandava o coração. Queria ser corajosa como aquelas mulheres tão a frente de seu tempo. Queria falar algumas verdades para quem merecia. Como o seu pai, por exemplo. Um senhor tão cheio de si, cheirava a madeira. Tinha uma alma visivelmente empertigada.
“Mas como é tolo, homem! Que adianta se achar perfeito?” Gritaria se pudesse. Já podia até ver a confusão na sua casa. A mãe desmaiaria, com certeza. As irmãs ficariam horrorizadas. E no meio disso tudo estaria Ana, num transe quase que sublime. Estava tão mergulhada em seus pensamentos que não ouviu a mãe pedindo que fosse se lavar para sentar-se à mesa.
Subiu as escadas em direção ao banheiro. Olhou-se bem no espelho. Era tão sem cor que quase ninguém a reparava. Aprontou-se e desceu mais uma vez. Ao redor da mesa via aquelas pessoas que faziam parte do seu cotidiano, mas que lhe eram totalmente estranhas. Teve vontade gritar verdades sobre as irmãs, sobre a mãe, uma senhora fraca que tudo que fazia era se lamentar por tudo. Mais uma vez calou-se. Perdeu o apetite, desculpou-se e se retirou. Subiu para o quarto. Era tão vazio. Reteve uma lágrima muda.
Pensou que seria mesmo ingênua demais, como seus pais sempre diziam. Achou melhor não pensar mais em verdade. Engoliu seco o que ela chamava de vontade. Depois disso, todos viam Ana sorrindo.

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