Celebração

quarta-feira, 6 de maio de 2009


Penteava os cabelos. Não sabia bem o que compraria para preparar o jantar de aniversário de casamento. Dez anos-pensava ela-deve ser coisa muito importante. Já sou o que chamam de mulher respeitável. A escova passava-lhe entre os fios dourados num movimento mecânico de vai e vem. Sustentava um olhar vazio.
Saiu do banheiro mal iluminado por conta da péssima fiação elétrica da casa hipotecada. "Dez anos, e um jantar para a família e amigos". Coisa íntima, abraços e congratulações. Desceu as escadas e se encaminhou para a cozinha. Foi tomar um copo d'água. Abriu a geladeira para pegar a garrafa verde e, de relance, olhou para a janela. Notou que algo tinha mudado. Havia mágica no ar. Dez anos...uma mulher decente e respeitada... notou aquilo frio, como se a tocassem com gelo por dentro. Sentiu-se tonta, quis sentar mas ficou ali parada, empalada pelo momento que se fazia durar.
Resolveu ir ao supermercado. Dez e sem filhos. Nunca entendera bem. Ela e ele não eram estéreis, muito pelo contrário, até gozavam de uma boa saúde. Consultas regulares ao médico, caminhada pela manhã. Bons alimentos e Dez anos de casamento.
Preparou um assado. Nada mais tradicional. Arrumou a casa e a si mesma. Percebeu que faltava o vinho. Não aguentou falhar. Era crepúsculo e uma mulher jazia na calçada de uma rua vulgar.

1 comentários:

daniel d'moura disse...

Final forte...que não aguentemos falhar!
Parabéns pelo belo texto...inté!

Seguidores